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ONG 'caçadora de cemitérios' localiza 800 mil soldados desaparecidos

Comissão se dedica a buscar e identificar alemães mortos em guerras (Foto: Comissão Alemã)

Instituição se dedica a encontrar corpos de alemães caídos na Segunda Guerra; 250 mil foram identificados e '10% das famílias' foram informadas.

"Tinha acabado de chegar em casa quando o telefone tocou. Era uma prima que eu não conhecia. Ela disse que haviam encontrado o corpo do meu pai", conta Christel Riese, de 71 anos, cujo pai, Alfred Bida, foi dado com desaparecido no final da Segunda Guerra Mundial.

"Na hora pensei que não era verdade. Não consegui mais falar e comecei a chorar. Eu já não tinha mais a esperança de que algum dia saberia o que realmente aconteceu com meu pai".

Durante décadas, a família de Bida tentou descobrir o paradeiro do soldado alemão, estacionado em Gdansk, na Polônia, que nunca mais voltou para a casa. A informação tão esperada chegou apenas em 2012, por intermédio da Comissão Alemã para a Conservação de Cemitérios dos Caídos na Guerra.
A instituição não é somente responsável pelos mais de 800 cemitérios de alemães mortos em guerras em 45 países, mas também por localizar sepulturas de soldados alemães enterrados em outros países da Europa e da África e identificá-los.

"A sensação que tive ao receber a notícia é indescritível. Mesmo que para nós o caso já estivesse resolvido, porque partíamos do pressuposto de que ele não estava mais vivo, sempre havia uma dúvida. E somente com a segurança da verdade consegui realmente encerrar esse capítulo", afirma Riese.
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Conflito e reconciliação

A busca por Bida começou logo após o fim da guerra e acabou dividindo a família.
Seu último sinal de vida foi uma carta escrita para a esposa em 22 de março de 1945, contando que estava ferido e havia sido levado para um hospital em Hel, na Polônia.
O hospital onde ele estava internado havia sido parcialmente evacuado antes da chegada do Exército Vermelho russo. Alguns soldados foram retirados da região em navios. Algumas dessas embarcações partiram para os Estados Unidos, outras naufragaram no litoral polonês. Sem informações concretas, Bida foi dado como desaparecido.

A família entrou em contato com o serviço de busca da Cruz Vermelha, mas não obteve resposta conclusiva.
"Acreditávamos que, se meu pai realmente estivesse vivo, a primeira coisa que ele teria feito seria contatar minha mãe para dizer onde estava", conta Riese. Foram anos de procura em vão, até que sua mãe decidiu declarar o marido como morto.

A decisão despertou brigas. A mãe e os irmãos de Bida ainda acreditavam que ele pudesse estar vivo e romperam com a nora. Foram décadas sem contato com os parentes paternos. Até 2006, quando um tio de Riese a procurou para saber se poderia acionar a Comissão Alemã para a Conservação de Cemitérios dos Caídos na Guerra.

"O objetivo da vida do meu tio era encontrar o irmão. Ele tinha certeza que a instituição iria encontrar meu pai. Depois de todos esses anos sem notícia, eu não acreditei que isso ainda fosse possível", revela Riese.

Em 2009, durante uma escavação no cemitério de Hel, a comissão finalmente encontrou os restos mortais de Bida, que foram transferidos para o cemitério de alemães caídos perto de Szczecin, cidade polonesa perto da fronteira alemã (chamada de Stettin, quando pertenceu à Alemanha). Nesse meio tempo, o tio havia falecido e a comissão precisou então procurar o contato de outros parentes de Bida. Três anos foram necessários para localizar a prima que telefonou para Riese.
E a história da busca pelo pai desaparecido que separou a família no passado serviu para uni-la novamente. "Através da comissão a família cresceu. Eu conheci a minha prima e agora nos encontramos pelo menos uma vez por ano", conta Riese.

Pai de Christel Riese foi dado como desaparecido no fim da Segunda Guerra Mundial (Foto: Clarissa Neher)

Cerca de 1 milhão de desaparecidos

A história de Riese não é uma exceção. A comissão recebe anualmente 30 mil pedidos de famílias que procuram parentes desaparecidos durante a guerra. Desde 1992, a instituição localizou mais de 827 mil soldados alemães mortos no Leste Europeu. Somente em 2014 foram quase 32 mil.
Apesar da grande quantidade de pedidos, a instituição tem dificuldade em informar parentes de soldados identificados, pois com o passar dos anos muitos mudam de telefone e endereço e, no fim, acabam desaparecendo. Além disso, há muitas pessoas que sequer sabem da existência desse serviço.
"Dos soldados localizados, identificamos cerca de 250 mil desde 1992. Mas conseguimos informar familiares de apenas 10% deles", conta Fritz Kirchmeier, porta-voz da entidade.
Segundo Kirchmeier, os pontos de partida para a descoberta das sepulturas são documentos sobre cemitérios utilizados por tropas alemãs, a indicação de soldados que retornaram da guerra e relatos de sobreviventes locais que se lembram onde alemães foram enterrados.

Com a confirmação desses dados, a instituição inicia o trabalho de exumação e identificação dos soldados. Posteriormente, os restos mortais são transferidos para cemitérios administrados pela comissão na região onde foram encontrados.

Os soldados são identificados basicamente pelas chapas de identificação. Em alguns casos, os mortos foram enterrados com uma garrafa contendo seus documentos. A identificação pode ocorrer também através de indícios sobre quem foi enterrado em determinado local. O teste de DNA é uma exceção, feito somente quando a família tem dúvidas e está disposta a arcar com os custos do exame.
Estima-se que 1 milhão de soldados alemães que combateram na Segunda Guerra continuam desaparecidos. Riese encontrou seu pai depois de 67 anos. Ela lamenta apenas que sua mãe, irmão e tio tenham morrido com a incerteza sobre o destino de Bida.

Desde o telefonema da prima, uma vez por ano, ela vai a Szczecin visitar o túmulo do pai.

Fonte: G1 | Clarissa Neher - De Berlim para a BBC Brasil



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