Parque das Flores foi entregue em 1996 inacabado
O antigo e atual portal de entrada do parque
Na época, o parque custou R$ 715 mil, o equivalente a R$ 2,8 milhões, em valores atualizados, mas foi abandonado até pelo seu criador, o ex-prefeito Edson Moura
Documentos e dados levantados e analisados pelo Correio no site da Câmara Municipal de Paulínia (CMP) revelam que o descaso do poder público e o vandalismo afetam o Parque das Flores desde o final de 1996, quando foi inaugurado pelo seu idealizador e então prefeito da cidade, Edson Moura (MDB), que, naquele ano, administrou uma receita estimada em R$ 110 milhões (LOA - Lei orçamentária Anual 1996).
Realizada pela antiga EMDEP (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Paulínia), por meio de empresas contratadas, a obra custou, na época, R$ 715.465,00 (setecentos e quinze mil, quatrocentos e sessenta e cinco reais) - o equivalente a R$ 2,8 milhões, em valores atualizados. Foram gastos R$ 88.865,00 com o playground; R$ 139.155,00 em materiais de construção e cercas ao redor do parque; R$ 69.160,00 com calçadas em mosaicos português e contenção de passeio; R$ 140.715,00 com retirada e transporte de terra da lagoa; e, R$ 132.660,00 no projeto arquitetônico
A EMDEP era uma empresa de capital misto (público e privado), que tinha como acionista majoritária a Prefeitura Municipal de Paulínia (PMP). Foi extinta em 2007 (Lei 2890/2007), no terceiro e último mandato de Edson Moura, que transferiu para o município todos os direitos e obrigações da empresa, incluindo dívidas tributárias e previdenciárias na ordem de R$ 115 milhões, segundo informou a PMP em 2009 (leia).
Entretanto, o Requerimento 058, do ex-vereador Francisco Almeida Bonavita Barros, datado de 14 de abril de 1997 (ou seja, poucos meses após o Parque das Flores ter sido inaugurado) e encaminhado ao então prefeito Dude Vedovello, sucessor de Moura, aponta que a obra foi entregue inacabada. “Devido à complexidade do projeto, alguns melhoramentos ficaram de ser posteriormente implantados, entre os quais o término do sistema de iluminação no local, o que vem trazendo insegurança aos moradores das imediações no período noturno, quando o parque é geralmente frequentado por desocupados e pessoas estranhas”, diz o documento, no qual Bonavita cobrou ainda a finalização dos quiosques e de outras instalações que não foram terminadas, antes de o parque ser inaugurado.
O primeiro registro legislativo de falta de manutenção e vandalismo no Parque das Flores foi feito pela ex-vereadora Maria Silvia de Arruda Ferro, na Indicação 183, de 6 de dezembro de 1996. “Embora tenha sido inaugurado recentemente, o Parque das Flores, localizado entre o Jardim Primavera e o Núcleo José Paulino Nogueira, já se encontra com alguns brinquedos quebrados, como é o caso do gira-gira, que inclusive chegou a ser arrancado por vândalos”, afirmou a vereadora, na propositura encaminhada ao ainda prefeito Edson Moura. Porém, de lá para cá, os problemas no Parque da Flores só aumentaram, e a indiferença dos gestores públicos, a eles, também.
Iluminação precária, falta de segurança, banheiros, bebedouros, lixeiras, caixas de contenção, alambrado, ponte pênsil danificada, calçamento e brinquedos quebrados, lagoa assoreada, entre outros problemas recorrentes no Parque das Flores, foram insistentemente pautados pelo Poder Legislativo, nos últimos 24 anos, em mais de 120 proposituras, entre indicações e requerimentos, apresentadas por vereadores, sugerindo melhorias e cobrando providências dos prefeitos à frente da administração da cidade.
Além de soluções para problemas pontuais, parlamentares cobraram de governos diferentes a manutenção e reforma geral do Parque das Flores. Nas duas últimas gestões do ex-prefeito Edson Moura, de 2001 a 2008, foram dois pedidos: em 2002, do ex-vereador Marcos Roberto de Bernarde, o Marquinho da Bola (Indicação 243), e em 2006, do ex-vereador Francisco Almeida Bonavita Barros (Indicação 197), ambos da então base governista na Câmara.
Inclusive, dois anos e pouco depois da solicitação de Bonavita, a sobrinha de Moura e vereadora na época, Simone Moura, cobrou oficialmente do tio (Requerimento 216) informações sobre a reforma e manutenção pedidas pelo então colega de Câmara, mas não obteve resposta. O prefeito que, em 1996, idealizou e inaugurou o Parque das Flores não atendeu os pedidos dos parlamentares aliados, mesmo tendo governado a cidade por oito anos consecutivos.
Em 2009, na gestão do então prefeito José Pavan Junior, Marquinho da Bola pediu (Indicação 33), novamente, a reforma do Parque das Flores. Em março de 2013, o parlamentar renovou o pedido a Pavan (Indicação 242), que permaneceu no cargo até julho daquele ano, quando Edson Moura Junior assumiu o comando da cidade. Moura Junior também recebeu inúmeras solicitações de melhorias para o Parque das Flores, mas nada foi feito. Ele saiu da prefeitura em fevereiro de 2015, cassado pela Justiça Eleitoral. Pavan reassumiu, terminou o mandato, mas os pedidos de reforma e melhorias não saíram do papel.
Em fevereiro de 2018, o então vereador Kiko Meschiati utilizou a Emenda Aditiva 17/2017, aprovada no Plano Plurianual (PPA) 2018/2021 e de autoria dele e do vereador Tiguila Paes (Cidadania), para cobrar do então prefeito Dixon Carvalho “projeto, processo licitatório e início de obras de revitalização, reforma e manutenção do Parque das Flores”. A referida Emenda destinou um total de R$ 3 milhões para a Prefeitura investir no Parque das Flores, de forma parcelada, durante os quatro anos de vigência do PPA. Carvalho administrou a cidade de janeiro de 2017 a novembro de 2018, quando também foi cassado pela Justiça Eleitoral, e o pedido de Meschiati foi mais um não atendido.
De novembro de 2018 a outubro de 2019, Paulínia foi administrada por dois prefeitos interinos: Ednilson Cazellato, o Du Cazellato (7 de novembro de 2018 a 22 de janeiro de 2019), e Antonio Miguel Ferrari, o Loira (23 de janeiro a 3 de outubro de 2019), e as cobranças de melhorias no Parque das Flores continuaram.
Mais de duas décadas depois de construído e inaugurado, este ano o Parque das Flores foi quase que totalmente revitalizado, ganhando, finalmente, a tão esperada atenção do poder público local. Por inciativa e exigência da atual administração da cidade, a maior parte da revitalização foi realizada pela MRV Construtora como contrapartida (sem custo para o município) em prol da população. A prefeitura executou serviços complementares como plantio de grama, de mudas de árvores e recomposição do calçamento.
Os trabalhos começaram no início de junho passado e, desde então, o local já ganhou novo portal de entrada, novos brinquedos, novo calçamento (interno e externo), nova iluminação, nova ponte, grama, bebedouros, academia ao ar livre, 446 mudas de árvores, entre outras importantes melhorias, como o desassoreamento e o aumento do nível de água da lagoa.
Ainda faltam lixeiras, bancos e banheiros, que, segundo a Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (SMOSP), serão instalados em breve. Falta também um sistema de segurança, principalmente, para coibir atos de vandalismo. No entanto, após tantos anos de descaso e abandono, hoje, o Parque das Flores é um verdadeiro e belo cartão-postal de Paulínia.
Fonte: Correio Paulinense | Fotos: Divulgação/PMP
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